África vincou-me a alma. Um vinco profundo daqueles que a gente não se livra em nenhum dia da vida.
Nesse vinco indelével, estão todas as savanas douradas com nuvens correndo baixas rente ao chão. E as chuvas torrenciais, permanentemente prisioneiras entre as nuvens e os charcos. E o sol abrasador, endurecendo a pele para outros futuros.
E o mar, na sua enorme mansidão azul, traçando alinhavos na areia, na certeza de que traçou outros em areias tão semelhantes às minhas.
Dentro de mim, sempre esta matriz essencial que me move e me faz dirigir sempre na mesma direcção. Poesia, prosa, ou apenas um olhar pela vida, sempre pela janela desse grande sul, tão grande que não tem explicação.
Sempre a mesma imagem: girassóis, milhões deles nas suas danças lentas, enquanto tambores se ouvem ao longe.
E tchingandjes ensaiando danças mágicas em rituais que só os iniciados conhecem.
E o cacimbo, ah o cacimbo. Não é explicável, é apenas cacimbo escondendo parcialmente as florestas entre os seus farrapos no húmido ar da manhã, numa altura em que os pássaros ainda se aquietam nas ramagens.
E o silêncio total e absoluto como em nenhuma outra parte do mundo. Um silêncio acolhedor, quente, recheado de mil mistérios.
É, sempre mas sempre, dentro de mim faz sul.
É assim a vida em TERRAMAR, onde dragões e feiticeiras se juntam e contam histórias em que tudo pode acontecer.
segunda-feira, outubro 31, 2011
domingo, outubro 30, 2011
EM BRANCO!
Sentamo-nos com uma folha de papel em branco à nossa frente. E começa a difícil tarefa de preenchê-la.
Uns optam por escrever, outros por desenhar, outros por ambas as coisas. É um processo penoso, porque na maior parte das vezes, a ideia inicial esvai-se à medida que vamos fazendo alguma coisa. A folha tem vida própria.
Então, aos poucos, penosamente lá vamos fazendo aquilo a que nos propusemos.
E tudo começa a tomar forma, ainda que se apague, risque, faça de novo e se recomece vezes sem conta.
No fim, independentemente do valor do que lá está, sentimos que demos um contributo ao mundo.
Porque o que lá está é nosso, irrepetível e é fruto apenas da nossa vontade.
Uns optam por escrever, outros por desenhar, outros por ambas as coisas. É um processo penoso, porque na maior parte das vezes, a ideia inicial esvai-se à medida que vamos fazendo alguma coisa. A folha tem vida própria.
Então, aos poucos, penosamente lá vamos fazendo aquilo a que nos propusemos.
E tudo começa a tomar forma, ainda que se apague, risque, faça de novo e se recomece vezes sem conta.
No fim, independentemente do valor do que lá está, sentimos que demos um contributo ao mundo.
Porque o que lá está é nosso, irrepetível e é fruto apenas da nossa vontade.
quarta-feira, outubro 26, 2011
ÁGUAS
Há tanto para ver a transparência da terra. Basta querer.
Olhar cacimbos translúcidos e ver através, a explosão de cores prestes a romper.
Ver elefantes se movendo em liberdade, fazendo do planeta a sua casa, desenhando sombras no pó que se levanta.
Presenciar o nascimento de um bébé, anunciando aos ventos a história de um amor.
Ver girassóis apenas preocupados em dançar, num borrão imenso nas planícies.
Sentir o vento quente nos acariciando a face, e o silêncio em redor pousando sereno nas copas das árvores.
Basta querer, sem precisar de turvar as águas limpidas do rio que passa.
De qualquer modo, como eu te entendo Mia.
Olhar cacimbos translúcidos e ver através, a explosão de cores prestes a romper.
Ver elefantes se movendo em liberdade, fazendo do planeta a sua casa, desenhando sombras no pó que se levanta.
Presenciar o nascimento de um bébé, anunciando aos ventos a história de um amor.
Ver girassóis apenas preocupados em dançar, num borrão imenso nas planícies.
Sentir o vento quente nos acariciando a face, e o silêncio em redor pousando sereno nas copas das árvores.
Basta querer, sem precisar de turvar as águas limpidas do rio que passa.
De qualquer modo, como eu te entendo Mia.
terça-feira, outubro 25, 2011
segunda-feira, outubro 24, 2011
FERNÃO CAPELO GAIVOTA
Ursula K Le Guin uma das minhas escritoras favoritas, fala nos seus livros, principalmente na trilogia "TERRAMAR", de voar em ventos diferentes.
A ideia, embora a tenha mais ou menos percebido, nunca foi clara para mim.
Até recentemente.
Voar é um acto de liberdade. Qualquer ave anseia por voar alto, o voo maior, o voo de uma vida. Nem sempre é possível, porque uma infinidade de coisas pode correr mal.
Pode nunca ser possível saír do bando e voar sózinho esse voo que vale uma vida.
Então, temos que voar nos ventos diferentes, nos ventos dos amigos, da poesia, da música, aprender a dançar com as palavras.
Não é a suprema felicidade, mas pode-se sobreviver com isso.
A ideia, embora a tenha mais ou menos percebido, nunca foi clara para mim.
Até recentemente.
Voar é um acto de liberdade. Qualquer ave anseia por voar alto, o voo maior, o voo de uma vida. Nem sempre é possível, porque uma infinidade de coisas pode correr mal.
Pode nunca ser possível saír do bando e voar sózinho esse voo que vale uma vida.
Então, temos que voar nos ventos diferentes, nos ventos dos amigos, da poesia, da música, aprender a dançar com as palavras.
Não é a suprema felicidade, mas pode-se sobreviver com isso.
SNIPERS
Esta noite passei-a em claro, trabalhando. Quando vinha para casa ouvindo o rádio do carro, ouvi a notícia.
O Secretário de Estado das Comunidades ia renunciar ao subsídio de alojamento. Os nossos políticos recebem subsídio de alojamento se residirem fora de Lisboa. De acordo, é uma maçada ter de se deslocar para governar. Embora ele tenha alojamento próprio em Lisboa, deu como referência a sua casa de origem em Braga!!! Por isso admiro os professores que não têm subsídio de deslocamento e ainda assim vivem felizes, conhecendo o país enquanto trabalham.
Eu prefiro um bom ditador. Desenganem-se, não os apoio, mas são políticos honestos, não estão ali para enganar ninguém, mandam, roubam, matam, mas assumem-se com esse rótulo. Claro está que acabam todos da mesma maneira, mas isso é outra história.
Agora, esta "escumalha democrática", que se esconde, aninha, serpenteia entre as nuances das leis e que ainda por cima se mostra indignada quando descoberta, é bem menos honesta que qualquer ditador escorreito.
E, no nosso país a justiça é inoperante. Mais, se observarmos os últimos vinte anos, verificamos que nas nossas prisões estão os ladrões menores, aqueles que ninguém conhece. Os outros, os ladrões "importantes", esses nenhum foi preso até agora. Convido-vos a fazer esse exercício de memória.
Eu digo muitas vezes que resolvia estes problemas, precisava apenas de quatro pessoas. Tinham é que ser bons...
O Secretário de Estado das Comunidades ia renunciar ao subsídio de alojamento. Os nossos políticos recebem subsídio de alojamento se residirem fora de Lisboa. De acordo, é uma maçada ter de se deslocar para governar. Embora ele tenha alojamento próprio em Lisboa, deu como referência a sua casa de origem em Braga!!! Por isso admiro os professores que não têm subsídio de deslocamento e ainda assim vivem felizes, conhecendo o país enquanto trabalham.
Eu prefiro um bom ditador. Desenganem-se, não os apoio, mas são políticos honestos, não estão ali para enganar ninguém, mandam, roubam, matam, mas assumem-se com esse rótulo. Claro está que acabam todos da mesma maneira, mas isso é outra história.
Agora, esta "escumalha democrática", que se esconde, aninha, serpenteia entre as nuances das leis e que ainda por cima se mostra indignada quando descoberta, é bem menos honesta que qualquer ditador escorreito.
E, no nosso país a justiça é inoperante. Mais, se observarmos os últimos vinte anos, verificamos que nas nossas prisões estão os ladrões menores, aqueles que ninguém conhece. Os outros, os ladrões "importantes", esses nenhum foi preso até agora. Convido-vos a fazer esse exercício de memória.
Eu digo muitas vezes que resolvia estes problemas, precisava apenas de quatro pessoas. Tinham é que ser bons...
domingo, outubro 23, 2011
CAMINHOS
E de repente, ele encontrou-se à beira de um precipício.
Sem saída, com todos os lobos da memória vindo no seu encalço.
Que fazer, pensou ele?
A morte sem glória ou a resistência tenaz?
Escolheu o segundo caminho. Apenas ficar junto ao precipício, e esperar que a alcateia, num gesto inesperado se afaste.
Sem saída, com todos os lobos da memória vindo no seu encalço.
Que fazer, pensou ele?
A morte sem glória ou a resistência tenaz?
Escolheu o segundo caminho. Apenas ficar junto ao precipício, e esperar que a alcateia, num gesto inesperado se afaste.
FASES
É oficial. O frio está aí.
A minha matriz africana começa a dar sinais de desconforto.
Mas nem tudo é mau, se se souber aproveitar o que a vida nos dá.
Chegou a época dos encontros regulares com os amigos, que afinal são o que nos suporta na vida.
E chegou a época alta do golf.
É que este é um desporto que às vezes até se joga com tempo bom!
A minha matriz africana começa a dar sinais de desconforto.
Mas nem tudo é mau, se se souber aproveitar o que a vida nos dá.
Chegou a época dos encontros regulares com os amigos, que afinal são o que nos suporta na vida.
E chegou a época alta do golf.
É que este é um desporto que às vezes até se joga com tempo bom!
sábado, outubro 22, 2011
quinta-feira, outubro 20, 2011
INSENSATEZ
De repente, as palavras misturam-se de forma indesejada. Por incompetência ou insensatez, deixamos que elas nos golpeiem e abram rasgos de difícil encerramento. Apetece fazer como Penélope, desfazer tudo e começar de novo, de modo que as nuvens sejam nuvens e que chão firme tenha exactamente esse significado.
Mas, domar um bando de palavras em voos alucinados, requer antes do mais ser mestre na arte de voar e na engenharia de ser ave, e nem sempre se consegue lucidez para fazer isso.A gente pode sempre imaginar um bando de pássaros em voo, mas quantas aves fugiram ao nosso controle?
quarta-feira, outubro 19, 2011
LIBERDADE
Pode-se ser livre em qualquer circunstância. Não há machado que corte a raíz ao pensamento. Pode-se criar o que se quiser, escrever sobre as nuvens, dançar com as palavras, fazer gotejar palavras dos beirais aflorando nevoeiros, pode-se descer as avenidas dançando ao som de um bolero imaginário.
Pode-se até inventar um verbo novo e fazer dele o campo de batalha de uma vida inteira.
Pode-se pisar terra firme, ainda que tudo o resto em volta sejam pantanos de areias movediças.
Pode-se ser livre, ainda que enclausurado na mais bárbara das prisões.
Mas para que isso aconteça, temos que ter todas as contas saldadas connosco próprios. Não se pode ser livre, devendo coisas à vida.
Pode-se até inventar um verbo novo e fazer dele o campo de batalha de uma vida inteira.
Pode-se pisar terra firme, ainda que tudo o resto em volta sejam pantanos de areias movediças.
Pode-se ser livre, ainda que enclausurado na mais bárbara das prisões.
Mas para que isso aconteça, temos que ter todas as contas saldadas connosco próprios. Não se pode ser livre, devendo coisas à vida.
terça-feira, outubro 18, 2011
segunda-feira, outubro 10, 2011
TECELÃ
Tece palavras, como se Penélope nunca tivesse existido.
Rios de palavras, escorrem da ponta dos dedos, e percorrem caminhos inusitados até ao grande mar. Palavras que são foz e nascente, tudo se misturando em nuvens de violentos tons azuis, viajando livres nos céus. Em bandos de poemas ou de prosa cintilante.
Tece palavras no ritmo dos tambores africanos, palavras que dançam e fazem levantar a poeira assente nos sagrados solos.
Palavras que são tchinganges, feitiços, maravilhas desencarceradas do mais fundo das prisões onde estavam aguardando um destino.
E de noite continuam lá, brilhando intensamente aos milhões, no azul profundo do meu céu do sul.
Rios de palavras, escorrem da ponta dos dedos, e percorrem caminhos inusitados até ao grande mar. Palavras que são foz e nascente, tudo se misturando em nuvens de violentos tons azuis, viajando livres nos céus. Em bandos de poemas ou de prosa cintilante.
Tece palavras no ritmo dos tambores africanos, palavras que dançam e fazem levantar a poeira assente nos sagrados solos.
Palavras que são tchinganges, feitiços, maravilhas desencarceradas do mais fundo das prisões onde estavam aguardando um destino.
E de noite continuam lá, brilhando intensamente aos milhões, no azul profundo do meu céu do sul.
sexta-feira, outubro 07, 2011
quinta-feira, outubro 06, 2011
quarta-feira, outubro 05, 2011
terça-feira, outubro 04, 2011
CIDADES
Caminho na cidade de rostos vazios
Dos beirais gotejam palavras sem sentido
Cruzo avenidas de silêncios e gentes
Sem rumos nem destinos anunciados
Os céus escondem-se em farrapos de poluição
Há muito que as árvores secaram seivas
E todos os pássaros voaram para azuis distantes
Edifícios vazios arranham as alturas cinzentas
E já nenhum poeta constrói sonhos
Já ninguém constrói absolutamente nada
Ninguém mais habita a casa da palavra
Dos beirais gotejam palavras sem sentido
Cruzo avenidas de silêncios e gentes
Sem rumos nem destinos anunciados
Os céus escondem-se em farrapos de poluição
Há muito que as árvores secaram seivas
E todos os pássaros voaram para azuis distantes
Edifícios vazios arranham as alturas cinzentas
E já nenhum poeta constrói sonhos
Já ninguém constrói absolutamente nada
Ninguém mais habita a casa da palavra
sábado, outubro 01, 2011
PARABÉNS AMIGA!
A Directora da CDC Angola, Ana Clara Guerra Marques, foi ontem distinguida> com o Diploma de Honra da UNAC (União Nacional dos Artistas e Compositores) na categoria de "Pilar da Dança" em Angola.
Esta categoria é atribuída a "artistas surgidos antes da década de 80, cujas obras ou actos influenciaram as gerações posteriores, contribuindo para a preservação e desenvolvimento da cultura nacional." Desta associação, da qual é membro desde a sua criação, Ana Clara recebeu já o "Prémio Identidade" em 1995.
Esta categoria é atribuída a "artistas surgidos antes da década de 80, cujas obras ou actos influenciaram as gerações posteriores, contribuindo para a preservação e desenvolvimento da cultura nacional." Desta associação, da qual é membro desde a sua criação, Ana Clara recebeu já o "Prémio Identidade" em 1995.
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