Ouça-se com atenção o que diz o Ministro da Saúde. Aparentemente foi lá colocado, não para resolver os muitos problemas da saúde, mas para acabar com o SNS. O tempo joga a favor do que digo e, os doentes portugueses já começaram a sentir na pele, embora ainda não tenham percebido de onde lhes vem o mal. Usando os "media", com frequência, faz passar a ideia de que os médicos são uma cambada de calaceiros, que só quer ganhar dinheiro à custa do Zé Povinho. Se este fizer as contas ao que tem vindo a gastar em saúde, depressa perceberá o que se passa. E, só vai piorar.
- Encerrou o Centro de transplantes hepáticos para crianças em Coimbra. Ninguém cuidou de saber porquê. O cirurgião foi-se embora e ninguém se questiona, porque é que um profissional fazendo cirurgia avançada, desiste. Pelo contrário o Snr. Ministro apenas diz que só trabalha quem quer e quem não quer vai embora. Fecha-se o Centro de Coimbra (também só havia 6 ou 7 transplantes por ano em crianças!) e, manda-se os miúdos para Espanha até haver um novo Centro, desta vez em Lisboa ou no Porto! Esta lógica empresarial é um verdadeiro mimo. Pela mesma razão porque fechou as maternidades, deveria pura e simplesmente fechar este Centro. O prestígio do mesmo e dos seus profissionais, são letra morta na cabeça do Snr. Ministro. Mas, também são só seis crianças!!!
E não há ninguém que o mande ao menos calar!!!
- Fecham-se maternidades, urgências, reestrutura-se sei lá o quê e toca a andar.
- Dezanove Directores de Serviço demitem-se, depois o Snr Ministro diz que já não se demitem, mas os mesmos continuam a dizer que se demitem e o Snr. Ministro diz que não faz mal, arranjam-se outros!!!
E não há ninguém que o mande ao menos calar!!!
- Vai haver ponto para picar em todos os Hospitais, por ordem do Snr. Ministro. Ainda não percebeu e, pior, está a passar a ideia dele ao povo, que essa medida não resolve problema nenhum, por mais que ele explique. Em breve veremos a asneira, quando já for tarde. Simplesmente, não lhe ocorre, que o trabalho por objectivos, sem horário rigido, é o que mais se coaduna com esta profissão. Óbviamente, todos sabemos que este tipo de gestão mexe com interesses difíceis de defrontar.
Por mim prometo que se um dia tiver que intervir sobre a pessoa do Snr. Ministro (nunca se sabe), na hora de saída pergunto-lhe se quer continuar a intervenção no dia seguinte, ou se me vai pagar horas extraordinárias muito bem pagas, para terminar a intervenção.
- Estaremos cá para ver. Dentro de pouco tempo, se isto continuar assim, o SNS estará sem os seus melhores profissionais em todas as áreas. Já aconteceu noutros países e vai acontecer cá. É que não há já paciência para aturar isto.
E não há ninguém que o mande ao menos calar!!!
Confrontamo-nos diáriamente com inumeras medidas avulsas, sem um fio condutor ( bom ou mau ), que nos leve nalgum rumo.
Evidentemente, que todos sabemos onde isto vai parar. Claro que há um rumo, baseado apenas nas teorias de mercado. Mas, ao menos haja decoro e não continue a chamar a isto reestruturação do SNS. E, os médicos, enfermeiros e restante pessoal de saúde não são tão maus como parecem. Se muitos não trabalham, muitos outros fazem-no para além do dever. E, mais uma vez este problema não se resolve com relógios de ponto. Estes só vão servir os interesses daqueles que picam a entrada e a saída. Nos tempos intermédios, andarão por onde lhes apetecer. Aqueles que cumprem para além do dever, vão ser beneficiados pois passam a saír a horas. Mais uma vez quem se trama é o "mexilhão".
Enfrente os Directores de Serviço e os gestores de área. Peça-lhes objectivos que terão de cumprir com o orçamento antecipadamente estipulado. Verá se trabalhar sériamente, como as coisas começam a correr bem.
Ou então, em definitivo, entregue a saúde aos grandes empresários. Essa parece-nos a todos a opção que quer seguir, desde o início.
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