Há momentos em que as palavras queimam
E escrever é uma montanha intransponível
Custa usá-las, porque fogem e magoam
Dançam as próprias danças, não as nossas
E o amor, já não é mais coisa de bemquerer
Há momentos em que as palavras doem
Silenciando todos os gestos ensaiados
Afectos ardem nas fogueiras lentas da noite
E os lobos e girassóis permanecem quietos
Ainda que a lua cheia se arraste nos céus
Há momentos em que as palavras ferem
E as gotas da chuva são apenas punhais
Ferindo incessantemente a alma já dilacerada
Impossível sonhar com dias de cor azul
E nenhuma noite se crava mais nas madrugadas.
Há momentos em que as palavras enlouquecem
E passeiam desordenadas nas nossas veias
Rios em turbilhão correndo ao contrário
Foz e nascente misturadas num caos alucinado
Nenhum abraço terno para inventar um chão
Os ventos imóveis já não vestem poeiras
E o sol deixa de caber no concavo das mãos
Há momentos em que o poema não é mais possível
1 comentário:
Há muitos momentos; uns mais bonitos que outros, uns feitos de alegrias e ainda outros feitos com dores ou tristezas…
Escrever é o sarar das feridas, o secar das lágrimas …… o lavar da alma…
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