Em tempos muito recuados, considerava-me ateu puro e duro, hoje vejo-me como um agnóstico. A maioria dirá que é natural e saudável que uma pessoa mude com a experiência e com a aprendizagem, e que mudar é um sinal de grande maturidade. Isto está em profunda contradição, com o que diz um verdadeiro escritor e que eu assino por baixo: “tenho 54 anos e nunca dei por estar a crescer”.
E não considero para além do mais, que neste assunto específico tenha havido qualquer mudança, apenas a vida me ensinou a suavizar as minhas opções e, hoje em relação a tudo o que me cerca, tento manter-me aberto e disponível para aceitar.
Mas desenganem-se.
Eu fui educado dentro de todas as normas e ritos da Santa Madre Igreja. Fui baptizado, fiz toda a catequese, tive a minha Comunhão Solene, fui crismado e por aí adiante. Não foi portanto uma questão de princípios.
A verdade é que a Igreja sempre me apresentou mais obrigações e deveres, do que graças. E nunca me habituei a lidar com o Deus sisudo e severíssimo que sempre me tentaram impor, e muito menos com a ideia de um brutal inferno, onde todos iríamos parar se não nos portássemos bem. Nunca consegui enquadrar esse Deus, como infinitamente bondoso e justo.
E quando achei que já tinha idade, perguntei aos meus pais, porque é que eles que me tinham educado segundo os preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana, cometiam o pecado semanal de nunca ir à missa. Responderam-me, que sempre que tinham necessidade de estar com Deus, ele estava presente. E sei que contactavam amiúde.
Com o sentido de humor, que felizmente herdei, o meu pai dizia-me que não gostava de tratar das coisas no escritório, além do mais através de intermediários, que a História tinha mostrado muitas vezes, que nem eram de confiança. Aquilo que era de facto importante, não podia nem devia ser adiado até ao domingo seguinte.
A partir daí nunca mais frequentei a missa e sei que os meus pais estejam onde estiverem, estão bem. Não deixo no entanto de reconhecer, que há gente que o faz por verdadeira fé, e esses para mim são os únicos, que verdadeiramente acreditam em Deus sem pedir nada em troca.
E foi assim que cheguei até aqui. Desacreditando da igreja e questionando a existência de um ser superior. Carregado de dúvidas e incertezas. E sem ser meu intuito envolver-me em profundezas teológicas, que para isso existe outra gente mais disponível, neste momento à minha frente colocam-se três hipóteses.
Deus de facto não existe e o problema está resolvido. Quando a altura chegar, quatro palmos de terra e adeus que me vou embora. Nada de muito preocupante para mim. Olho para a morte como uma situação inevitável e, se aprendi alguma coisa até aqui, foi que o que é inevitável não nos deve preocupar uma vez que nada podemos fazer para mudar o rumo dos acontecimentos.
Deus existe, e é de facto severo e castrador, tal e qual como a igreja recomenda e propaga aos quatro ventos. Não é um Deus que eu consiga aceitar e a ser verdade, provavelmente irei pagar por isso.
Deus existe, mas é como eu O penso. Igualzinho à própria vida: sereno, doce, justo e acima de tudo divertido e com um enorme sentido de humor, pois só assim, é que ele pode aguentar tudo o que lhe vêm fazendo, ou que fazem uns aos outros em nome Dele.
O cálculo de probabilidades mostra-se a meu favor. Das três hipóteses, duas são-me favoráveis. Ou não existe, ou existindo é como eu O imagino e está neste momento a divertir-se com o que eu estou a escrever. Saberá perdoar as minhas dúvidas, com ou sem um castigozinho a acompanhar (dependendo do Seu humor no momento, mas nunca será nada de aterrador ), uma vez que duvidei Dele.
Quanto a toda a imensa legião de gente, ao enorme rebanho tresmalhado sem o saber, que frequenta a igreja semanalmente, para fazer (como se diz hoje em linguagem informática) o “reset” do disco duro da alma, pensando ter na semana seguinte a oportunidade de cometer todos os seus pequenos crimes e pulhices, que poderão apagar à vontade no domingo seguinte com meia dúzia de rezas e uma confissão de permeio, para esses o cálculo de probabilidades diz que se irão seguramente danar.
É que mesmo um Deus divertido e com um sentido de humor invejável, não deve achar graça nenhuma a isso.
Tudo tem um limite.
4 comentários:
"Quando já eliminaste o impossível, o que sobra, por mais improvável que pareça, só pode ser a verdade." (Arthur Conan Doyle)
Não acredito em deus. E se ele existir, unirei-me ao Woody Allen para entrar com uma ação conjunta contra o péssimo trabalho que ele faz.
Henrique, milenares dúvidas sem recentes respostas. Certo certo é que esta coisa do Universo e seus constituintes me parecem demais para um Deus só e como ele é resultado da Criação humana fico-me pela partícula da vida (ADN- ao acaso e por necessidade. Abraços.
Partícula da vida. Gostei! E muito :)
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