segunda-feira, junho 08, 2009

UPRISING


A minha amiga Phwo, colocou hoje um "post", que aconselho visitar. Já o conhecia e penso o mesmo.
Ninguém deveria poder dormir.
No entanto, este problema é bem mais vasto. O problema da fome no mundo é em si mesmo uma vergonha para todos nós, ou pelo menos para alguns de nós. Não tenho ilusões. A procura de uma sociedade mais justa, perdeu-se algures na voragem desta globalização, que ao invés de nos juntar a todos, nos tem afastado cada vez mais. São frequentes as imagens de desperdícios, de alimentos deitados fora, apenas para se manterem os preços. E, quem o faz, tem consciência absoluta do que se passa, o que torna este crime contra a humanidade ainda mais ignóbil. Não é preciso escolher África para exemplificar. Pode-se encontrar o mesmo problema em qualquer continente.  O hiperconsumismo tem destas coisas, a par com imagens terríveis de fome que poderia ser fácilmente aliviada se os povos decidissem tomar os destinos nas próprias mãos.
Já não se pede uma sociedade mais justa. Apenas se pede que se pare para reflectir.
Sinto-me, sentimo-nos todos acho eu, um pouco perdidos no meio disto e não sabemos como sair.
Vive-se tranquilamente em democracia, como se esta fosse o resultado final e não o meio do caminho para um sistema melhor, mais igualitário, menos injusto. E, há por aí muita gente que não se coibe de dizer em tom jocoso, que a democracia é dos sistemas injustos, o mais justo. E ficam muito felizes por poderem dizer estas anedotas.
Poderá eventualmente ser, mas tenho a certeza que não é o fim do caminho. Os partidos políticos pensam o contrário, mas é fácil imaginar um mundo novo sem partidos. Ainda voltarei a este tema.

Desperto lentamente desta abulia que me tem consumido. Os meus companheiros, parece também foram atacados pelo virus. Nem todos. A Mª de Lurdes, deixou aqui um retrato fiel do país cinzento em que nos tornamos. Apenas discordo levemente no que diz respeito ao futebol. É o maior espectáculo do mundo, embora alguns teimem em estragá-lo.

6 comentários:

C. Cardoso disse...

A indiferença e a intolerância são as verdadeiras "pragas" da nossa sociedade.
Mas acredito que todos podemos fazer a diferença (sou uma positivista).Uma "curta" que está a correr mundo.
Um abraço,
Canduxa
http://www.cultureunplugged.com/play/1081/Chicken-a-la-Carte

Luna disse...

A fome destrói milhões de pessoas em todo o mundo e a grande maioria por causas humanas. A ineficácia dos governos e a desatenção com a população menos favorecida, contribuem para a miséria, que por sua vez, é um produto originado pelo capitalismo que injustamente acumula riquezas nas mãos de poucos e a falta nas mãos de muitos...
ML

Terra disse...

... e aqui a promoverem concursos para eleger o 'bumbum dourado', com prémios de 20.000 USD para a vencedora!!!!
Abjecto! Revolta qualquer estômago, mesmo os mais acostumados a todo o tipo de 'obscenidades sociais'
Um beijo

Maria de Lurdes disse...

Completamente de acordo com o que todos os intervenientes escreveram, especialmente com a adjectivação e indignação de Phwo. É ignominioso que se deixe chegar parte da humanidade a este ponto. Os deserdados da sorte deveriam de facto tomar o seu destino nas suas mãos, mas, na situação actual, não terão os meios nem a oportunidade para o fazer. Enquanto houver insensibilidade, falta de solidariedade, desrespeito pelos outros, corrupção e satisfação dos próprios interesses, os decisores não moverão uma palha para que haja equidade na distribuição da riqueza. E não custaria muito: bastaria, para além de os ajudar inicialmente com o peixe, fornecer-lhes também a cana de pesca e a necessária formação, para tirar com eficácia o melhor partido dessa mesma cana.
Um produtor de leite disse-me nos Açores que pedira um dos subsídios da UE para incrementar e melhorar a produção. Foi-lhe concedido e ele conseguiu aplicá-lo com eficiência, de tal forma que passou a produzir mais, pensando que isso seria de louvar. Pensou errado: teve de destruir parte da produção e teve também de pagar uma multa, o que iria causar-lhe problemas financeiros sérios. Perguntava-me ele com perplexidade se eu achava alguma lógica, bom senso ou justiça nesta directiva de Bruxelas, que é implacável para quem ultrapassa as quotas.
E a África ali tão perto. Mas parece que a ajuda que por vezes se envia a África se perde pelo caminho, provavelmente por causa das altas temperaturas da região, que levam à evaporação.
Um abraço.
Maria de Lurdes

Anabela Simoes disse...

E SE FOSSEM CAUCASIANOS?
O "mundo" continuaria indiferente?

Maria de Lurdes disse...

Boa e pertinente pergunta, a da Anabela. E a resposta só pode ser um rotundo NÃO. Porque os caucasianos são uma raça superior (leia-se isto com todo o sarcasmo possível), cheia de direitos e com um dever apenas: o de afirmar a sua superioridade face a outras raças mais ou menos "coloridas". Povos como os africanos, os asiáticos ou os índios americanos são considerados por alguns como subprodutos do ser humano e, como tal, não podem aspirar a usufruir das mesmas benesses proporcionadas pelo desenvolvimento aos caucasianos. É claro que, mesmo entre os caucasianos, há nuances de tom, que levaram a "pérolas" como a teoria da supremacia da raça ariana, com as terríveis consequências que todos conhecemos. É que "há uns mais iguais do que os outros", como escreveu Orwell.
Isto remete-nos para o tema do racismo. É inconcebível que, numa época que se caracteriza por incríveis avanços científicos, tecnológicos e mesmo no âmbito dos valores, ainda haja quem se encontre num estádio ideológico digno do Cro-Magnon. Lembra-me os "Los Alamos", cujo vocalista se interrogava numa canção de grande sucesso nos anos 7o ou 80: "I search the open sky/to find the reason why/Oh Lord/ the colour of my skin/is said to be an awful sin/Oh Lord, why Lord?". Ao que me parece, há uma teoria com base científica que afirma que, na era das convulsões climáticas, o homem primitivo ter-se-ia deslocado de África para a Europa, pelo que os europeus serão descendentes de ancestrais africanos. Se a cor da pele é relevante, então seria legítimo todos nós assumirmos atitudes marcadamente racistas: os de pele mais clara em relação aos morenos, destes em relação aos negros, amarelos e vermelhos, destes em relação aos brancos, e até todos eles entre si, devido aos tais cambiantes nas cores básicas. Seria coisa linda de se ver, um bom testemunho da imensa capacidade do ser humano em se superar relativamente a situações bizarras. Ora, é sabido que a cor da pele ou dos olhos tem a ver com a forma inteligente que a natureza encontrou para resolver a questão da adaptação do homem às condições climáticas das várias regiões do planeta. Daí, a conclusão óbvia: quanto mais racista uma pessoa é, tanto mais estúpido e ignorante. A suprema e trágica ironia é que Hitler, o pai da tal teoria da pretensa superioridade da raça ariana, era a antítese física do modelo que ele glorificava.
Um abraço.
Maria de Lurdes