"Outras
formas de causar problemas a Putin"
euronews: "Tem estado a trabalhar na
bússola estratégica da UE. Não é uma solução mágica, mas, será que pode ser
útil para a segurança europeia?"
Josep Borrell: "Sim. A guerra na Ucrânia tem
efeitos colaterais positivos. Desculpe dizer positivo quando tantas pessoas
estão a morrer e um país está a ser destruído. Mas sem esta guerra não
estaríamos a tomar medidas para nos vermos livres da nossa dependência
energética da Rússia. Sem esta guerra, estaríamos na situação anterior. Não
estaríamos conscientes de que a Europa está em perigo, é tão simples quanto
isto. E se estamos em perigo, devemos ser adultos e estar preparados para
enfrentar esses perigos".
euronews: "E o alargamento da União
Europeia? Veria países como a Ucrânia, a Moldávia e a Geórgia na União Europeia
até 2030?"
Josep Borrell: "Não consigo pensar em datas.
Vamos esperar pelo trabalho da Comissão, que vai dar um parecer sobre como
proceder face aos pedidos de adesão da Ucrânia e de outros países. E não se
esqueça que, nos Balcãs, há também seis Estados à espera da adesão".
euronews: "E como deve a Europa
posicionar-se num mundo dominado pelas armas?"
Josep Borrell: "É a chamada militarização das interdependências. Ficamos dependentes de alguém e depois isso é usado como uma arma contra nós. Temos de ser mais autónomos. Temos de ter uma forma de autonomia ou responsabilidade estratégica. Com a pandemia, descobrimos que na Europa não produzíamos sequer uma grama de paracetamol, o que é bastante fácil de produzir, mas era muito mais barato produzi-lo noutros países. Comprar barato é uma coisa. E ter a possibilidade de obter um produto é outra coisa, quando se vive uma crise. Talvez tenha sido mais barato ontem, mas hoje é incomportável". Defender a liberdade e lutar contra os que lutam contra a Ucrânia terá um custo. E os políticos devem ter a coragem de explicar ao povo que este custo tem de ser aceite, caso contrário o custo será muito maior
Josep
Borrell, alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros
Josep Borrell: "Fala-se muito da proibição da
compra de petróleo russo. Há outras formas de causar problemas a Putin: os
seguros. Se decidirmos que as nossas companhias de seguros não fazem seguros ao
transporte de petróleo russo, nem mesmo para a Europa. Em todo o mundo os
russos vão enfrentar um grande obstáculo para exportar o petróleo, não para a
Europa, mas para o resto do mundo".
euronews: "A guerra, infelizmente, terá
enormes impactos globais ao nível da segurança alimentar, da energia e da
segurança. Qual é, qual deve ser o plano a longo prazo?"
Josep Borrell: "O que importa é ter um mundo
baseado em regras, porque não há regras. Há uma regra: a regra do mais forte.
Temos vindo a construir a Europa como um jardim francês, ordenado e geométrico.
O resto do mundo é mais como uma selva. E se não queremos que a selva invada o
nosso jardim, temos de pagar esse preço. Usamos a palavra solidariedade, mas
solidariedade não significa nada se não houver um preço. Se não houver um
custo, podemos expressar solidariedade para com toda a gente. O momento em que
pagamos é o momento da verdade. E nesse momento temos de compreender que
defender a liberdade e lutar contra os que lutam contra a Ucrânia terá um
custo. E os políticos devem ter a coragem de explicar ao povo que este custo
tem de ser aceite, caso contrário o custo será muito maior".
Agora finalmente começo a perceber. Esta entrevista é muito elucidativa. A Europa está mais forte que nunca? Se calhar é por isso que a Itália produziu hoje as declarações que se seguem:
Mais armas para a Ucrania? Não. Significariam mais mortes, mais guerra, mais fome, disse Salvini.
Também o partido democrata (PD), a principal força de centro-esquerda no país que, até agora, tem apoiado a linha mais dura de Draghi, está a revelar sinais de divisão interna e de uma mudança gradual de posição.
Draghi deveria dizer a Biden para não aumentar as tensões, disse no domingo Graziano Delrio do DP, acrescentando que um acordo negociado era a única opção viável.
O líder da DP, Enrico Letta, disse ao "Corriere de la Sera" esta segunda feira que a Europa não se deve permitir ser liderada pelos Estados Unidos, apelando aos cinco maiores países da UE que fossem primeiro a Kiev e depois a Moscovo.
Se calhar foi por isso que o Presidente Macron disse ontem, que a entrada da Ucrania na UE vai demorar decadas.
Se calhar foi também por isso que treze países da UE votaram contra as alterações à constituição europeia.
Se calhar é por isso que não se entendem sobre as sanções ao petróleo e gás russos.
Se calhar foi por isso que o sexto pacote de sanções caíu por terra.
Se calhar, os BRICS têm alguma coisa a ver com tudo isto.
Se calhar, os dinheiros congelados da Rússia, do Iraque, do Afeganistão, da Síria, da Líbia, etc, não vão servir para a reconstrução da Ucrania.
Se calhar, o verdadeiro foco desta guerra está completamente desfocado.
Se calhar!
Sem comentários:
Enviar um comentário