Ondjaki é sempre surpreendente. E para nós angolanos, que já fomos meninos e que já andamos pelas mesmas ruas dessa pátria tão amada, cada livro dele leva-nos de volta.
Este novo tem um prefácio de pessoas que eu conheço pessoalmente. O tio Rui, escreveu um livro mágico, "Quem me dera ser onda".
- Tio Rui, posso falar dos restos de letras que a tia Alice tira do teu bigode à noite?
- Podes.
- Não vão querer vir na nossa rua roubar a caixa de letras?
- Não. Ninguém vai acreditar.
Sobrinho
Claro que podes que ainda a rua já é a mesma outra de nome mudado e tudo, não se pode mais jogar futebol, nem ouvir pássaros, nem sapos, é só o engarrafamento dos jipaços, parecem estilhaços das sirenes do cimento bem armado de mãos nos bolsos dos calos dos sapatos. Podes, com palavras pode-se mesmo traduzir a voz do silêncio. Com bigodes e a fazer de guiador de uma bicicleta que desce para cima sem travões. Podes, sim senhor, falar dos restos de letras que, felizmente andamos a semear. Katé!
Tio Manuel também Rui.