Não me procures ali
onde os vivos visitam
os chamados mortos.
Procura-me dentro das grandes águas.
Nas praças,
num fogo coração,
entre cavalos, cães,
nos arrozais no arroio,
ou junto aos pássaros
ou espelhada num outro alguém,
subindo um duro caminho.
Pedra, semente, sal, passos da vida.
Procura-me ali.
Viva.
7 comentários:
Isto é extraordináriamente bonito.
Gostei mesmo muito.
Obrigado.
Bjs
GED
Está dentro de um livro do Mia Couto:
Antes de Nascer o Mundo.
Super lindo livro que, de novo, traz uma Marta e que de novo traz revelações sobre as mulheres.
bjs.
BF
Não tenho esse livro. Como é possível?
Seja como for é muito bonito.
Beijo
GED
Oh, que pena! E eu que pensava que você tinha.
Olá,
Para todos vós com um abraço de irmã (incluindo a Bípede Falante, claro).
Alice Almeida
PERGUNTA-ME
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me derive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
MIA COUTO
In "101 Poetas"
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PERGUNTA-ME
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me derive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
MIA COUTO
In "101 Poetas"
Desculpa, Henrique, não sei como fiz que saiu duplicado, não sei se podes apagar um.
Beijo
Alice Almeida
Alice, que lindo poema!
Pode vir duplicado, triplicado. Eu gosto de ler mesmo muitas vezes. Então, os olhos só vão descendo pelas linhas. Vou procurar esse livro. Também quero perguntar perguntar perguntar!
beijo :)
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