sexta-feira, janeiro 18, 2008

CHUVA


Essa fotografia fez-me ir buscar um poema que há muito não lia.
Cacei-o em jeito de rima com a imagem.
Penso que fazia falta lá na terra, onde Janeiro não é muito de chover. Quando chovia era o alívio... com 35 graus, como de costume, as primeiras pingas deixavam-nos respirar e o nossos sentidos abriam-se aos cheiros balsâmicos da terra. Brotavam os veludos e os sapos iniciavam os seus cânticos que nos embalavam a noite.
É um poema bem velho de uma pessoa que deixou raízes em Benguela.

"Chove.
E a trovoada
É um batuque incessante,
uma estranha batucada.

Os raios são setas de fogo
que misteriosamente, em tom de guerra,
espíritos do mal lançam da altura
para incendiar a Terra.

O vento
Ora violento, ora brando,
o vento é o cazumbi dos cazumbis
-o Deus do mar, do rio e da floresta -
que vai cantando e dançando,
em tragicómica festa,
o seu coro de mil vozes,
os seus bailados febris.

As nuvens negras são virgens tontas,
quais almas do outro mundo,
errando como sonâmbulas
pelo céu negro e profundo...
é a chuva, constante e forte,
é o pranto (parece eterno)
dos deuses negros que a Morte
sacrificou no Inferno."

Geraldo Bessa Victor 1917

Um abraço Henrique. Espero que o poema cure.
Jorge Sá Pinto.

3 comentários:

GED disse...

Amigão
Curar não cura, mas ajuda a passar o tempo até 15 de Fevereiro.
Depois, aqui vou eu.
Um abraço
Henrique

kambuta disse...

Jorge, excelentes versos que como diz o Henrique não curam mas aliviam. Um abraço.

Fernando Manuel de Almeida Pereira disse...

Cuidado que com a questão Agualusa, o que pode suceder é compararem o Geraldo Bessa Victor ao Jorge Luis Borges...Agualusa nem nome de água consegue ser!Apesar de escrever bem...