segunda-feira, maio 30, 2011

CHUVA


CHUVA
-Diz-me compadre José, tu não achas que a chuva são lágrimas do céu?
- Claro que não Justino. Apenas água que cai das nuvens.
- Sei não. A mim, me parecem lágrimas escorregando pela face das tardes. Tu já provou chuva? Tem sabor de sal na boca da gente
.- Eu andei na escola, sei muito bem que é água contida nas nuvens e que em determinadas condições cai.
- Pois eu te digo compadre José. São lágrimas mesmo. Escorrem-me na face e já nem preciso chorar. Parece mesmo estou a fazer isso. E sempre chove quando estou triste.-
Pode até ser. Já vi tchingange chorando para a chuva cair. E guerrilheiros se escondendo em camas de chuva miudinha
.- Vê compadre? Eu até conheço gente que guarda e pastoreia nuvens e que choram apenas quando elas querem. Rebanhos delas se desfazendo em lágrimas por todo o lado até ao horizonte. Eu gosto de me lavar nessa água. Parece me purifica a alma. E só lágrima faz isso.
- Se calhar tu tens razão. Estou me lembrando da mana Kupilica quando deu à luz. Chovia e o sol era intenso. Parecia milagre. Se calhar eram lágrimas de muita alegria, que lágrima também cai de contentamento. É isso aí, nunca mais vou olhar para a chuva do mesmo modo. A gente tem de olhar para as nuvens com os olhos do coração.

Da série poemas latino-americanos II

De Mario Benedetti:

Lua Congelada

Com esta solidão
ingrata
tranquila

com esta solidão
de sangrados achaques
de distantes uivos
de monstruoso silêncio
de lembranças em alerta
de lua congelada
de noite para outros
de olhos bem abertos

com esta solidão
desnecessária
vazia

se pode algumas vezes
entender
o amor.

sexta-feira, maio 27, 2011

Da série poemas latino-americanos

Enigmas

Todos temos um enigma
e como é lógico ignoramos
qual é sua chave seu sigilo
raspamos a proximidade
colecionamos os despojos
nos extraviamos nos ecos
e o perdemos no sonho
justo quando ia se decifrar

e tu também tens o teu
um enigma tão simples
que os postigos não o escondem
nem o descartam os presságios
está em teus olhos e os fechas
está em tuas mãos e as retiras
está entre teus peitos e os cobres
está em meu enigma e o abandonas

Do livro O amor, as mulheres e a vida, de Mario Benedetti (escritor uruguaio).

domingo, maio 22, 2011

ENCONTRO 2011

A pedido da Organização, aqui vão as últimas notícias.



Caros colegas e amigos
É com muito gosto e empenho que estamos a dar continuidade à organização de mais um Encontro da Associação Académica dos Antigos Estudantes do Cubal, e que se realizará no fim de semana de 15 de Outubro, no Hotel Monte Rio Aguieira*
Barragem da Aguieira
3450-011 Mortágua

Coordenadas de GPS:
40 350 767
-8 202 726

Importa que possamos contar com uma elevada e participada presença vossa, com o objectivo de dinamizar o evento, e desfrutarmos de momentos de alegria e bem-estar, mantendo viva a amizade que nos une.
Assim, enviamos em anexo o programa do 22º Encontro, bem como a ementa e a ficha de inscrição. É indispensável que as confirmações e os respectivos pagamentos sejam efectuados impreterivelmente até dia 15 de Setembro de 2011, conforme exigência do Hotel.
Após esta data a comissão organizadora não se responsabiliza pelas reservas dos quartos nem do jantar.
Contamos com a vossa colaboração
Saudações académicas
A Comissão
Juca Laranjeira. Tlm: 962422257
Jucalaranjeira@netcabo.pt

Carlos Lopes. Tlm: 968573702
carlossepol@netcabo.pt

Diny Querido. Tlm: 934052637
dinyquerido@gmail.com

Quota Anual: 7.50€
· As confirmações e respectivas inscrições deverão ser feitas para qualquer dos endereços electrónicos abaixo indicados
· O pagamento deverá ser feito, preferencialmente por transferência bancária, para o NIB: 0035 0545 00063474500 15
· Ou por cheque endereçado a: Júlio Manuel Neves Laranjeira
Para a morada: Rua Cristóvão Colombo nº 18, 6ºDt 2675-583 Odivelas

OBS: as confirmações e respectivos pagamentos, deverão ser efectuadas impreterivelmente até dia 15 de Setembro de 2011 (de acordo com a solicitação do Hotel)



PROGRAMA

15 de OUTUBRO

11:00 – Recepção no Hotel Monte Rio

17:00 – Cocktail de Boas Vindas

20:30 – 22:30 – Jantar

22:30 – 05:00 – Animação e Baile


16 de OUTUBRO

09:00 - 11:00 - Pequeno-almoço bufett




EMENTA

Jantar
Creme de legumes
Bacalhau com broa
Arroz de Pato à moda de Lafões
Buffet de sobremesas
Vinho tinto e branco, águas minerais e refrigerantes
Café e digestivos

Ceia
Caldo verde, salgadinhos variados,
Vinho tinto e branco, águas minerais e refrigerantes
Pão, mini croissants ,
Cacau quente


FICHA DE INSCRIÇÃO
Nome:
Endereço Postal:
Endereço de Correio Electrónico:
Contacto Telefónico:

Sábado: 15 de Outubro de 2011
Quarto Duplo 38 € (indicar o nº de quartos)
Quarto Single 33 €
Cama Extra 15 €

Cocktail/Jantar Ceia/Baile 35 €


6ª Feira, 14 de Outubro

Quarto Duplo 45 € ( indicar o nº de quartos)
Quarto Single 35 €

CDC





Recebi da minha amiga Pwo, esta notícia que não comento, apenas lamento.



Companhia de Dança Contemporânea em risco de extinção

A Temporada 2011 da Companhia de Dança Contemporânea, com a peça intitulada “O Homem que chorava sumo de Tomates”, vai já na sua terceira semana de cartaz (das quatro programadas), com sala cheia, num espectáculo, uma vez mais inovador, atitude que tem caracterizado a forma de partilha desta companhia com o público. Na sua nova obra, a CDC Angola opta pelo teatro-dança, um género associado à dança contemporânea, insistindo também na dança inclusiva com a integração de bailarinos portadores de deficiência no seu elenco.
Pioneira em diferentes frentes que vão desde a introdução da dança contemporânea em Angola, à apresentação periódica e regular de espectáculos, em regime de temporadas, passando pela utilização de espaços não convencionais e, mais recentemente a abertura para a dança inclusiva (bailarinos com e sem deficiência física), a CDC tem procurado diferentes vocabulários e novas linguagens, como forma de expressão, no âmbito da pesquisa e experimentação, surgindo assim uma proposta de revitalização da cultura de raiz tradicional e popular, pela utilização dos seus elementos na perspectiva da criação de novas estéticas para a dança angolana, diversas vezes em articulação com outras linguagens (literatura, cinema, artes plásticas, teatro)
Porque a arte não existe apenas num âmbito de espectáculo, mas também noutras vertentes em que outros públicos a experimentam, a manipulam e criam produtos, sensações, descobrem vocações ou apenas desfrutam de momentos de prazer, o projecto da CDC integra também uma Oficina de Artes com o objectivo de fazer uma ponte entre o ensino artístico, as artes e a comunidade.
Numa altura em que a CDC Angola assinala 20 anos de existência, com mais de uma dezena de obras originais, sob a direcção da coreógrafa angolana Ana Clara Guerra Marques, cujo trabalho de investigação e produção criativa são sobejamente conhecidos pela sua regularidade, consistência intelectual e qualidade artística e profissional; num momento em que esta companhia, a primeira e única profissional do género em Angola tenta desenvolver um projecto de extensão comunitária com foco na dança enquanto forma de inclusão; num tempo em que Angola pretende ser um país moderno e aberto para o mundo com um desenvolvimento a nível de todos os sectores, visando a sua expansão, o Gabinete de Divulgação e Imagem vem por este meio comunicar que a Companhia de Dança Contemporânea de Angola, deixou de ter um espaço para desenvolver o seu trabalho diário.
Tendo em conta o volume de projectos e actividades que são regularmente apoiados em Angola por entidades estatais e privadas, é de questionar porque não é a CDC Angola contemplada? Para reflexão, aqui ficam as palavras do Presidente da República de Angola: “Não é por acaso que muitos dos nossos criadores já se baseiam nelas [nas tradições] e irão certamente continuar a basear-se para produzirem a música erudita, a dança contemporânea, as danças africanas estilizadas, as belas artes e o teatro moderno. Isto não deverá impedir, no entanto, que continuemos a inserir-nos sem complexos na modernidade, apoiando sem reservas a expressão das novas realizações, inquietações e aspirações que a transformação das bases da nossa sociedade e o progresso social e científico nos impõem”.


Gabinete de Divulgação e Imagem da CDC, em Luanda, aos 16 de Maio de 2011

sábado, maio 21, 2011

sexta-feira, maio 20, 2011

A PALAVRA

Escrever é um risco, uma roleta, uma montanha russa sem barreiras laterais nem cinto.
A gente busca na casa da palavra, as mais certeiras, redondas, afiadas para que se soltem e voem.
Por vezes, o mais difícil é juntá-las de forma a serem harmoniosas, inteligiveis, fazerem sentido.
Depois num acto de criatividade libertadora, que nos deixa exaustos, lançamo-las num voo que queremos perfeito.
Às vezes não acontece assim, mas também não é caso para desistir.
Acontece aos melhores...

DOENÇA MORTAL




DOENÇA MORTAL
Conversas imaginárias ( escrita sobre as nuvens entre Paris e Lisboa)




Rosalinda tinha tudo para ser feliz e fazer qualquer homem feliz.
De facto era uma mulher muito bonita, sensual, inteligente culta e divertida.
Foi assim que Pedro a conheceu e se apaixonou de imediato. Ela também, porque Pedro parecia ser tudo o que ela sempre tinha desejado.
E ao fim de algum tempo de namoro casaram.
Viveram felizes e muito apaixonados, pelo menos durante algum tempo nada manchou esta relação .
Um dia de manhã, sem qualquer motivo aparente ela diz-lhe.
- Pedro, estás tão perfumado, passa-se alguma coisa?
- Claro que não, uso este perfume há mais de cinco anos e sempre o ponho de manhã como sabes
- Sei, mas hoje o cheiro parece-me mais intenso, mas deixa, deve ser impressão minha.
Pedro saíu para o trabalho, levemente perturbado, mas depressa esqueceu o pequeno incidente.
E tudo foi correndo bem nos dias seguintes.
Algumas semanas depois, de manhã, já Pedro tinha esquecido o pequeno incidente, Rosalinda volta a perguntar-lhe.
- Pedro, estás de meias pretas, vais ter com alguém, andas a enganar-me?
- Claro que não meu amor, tu sabes muito bem que eu só tenho meias pretas, e porque haveria de te enganar? Nós não somos felizes?
Mais uma vez, Pedro saiu para o trabalho, desta vez com alguma preocupação, pois não achava normal a atitude de Rosalinda.
Nos dias seguintes tudo se tornou mais sério e obssessivo.
- Pedro, estás a cortar as unhas dos pés e das mãos porquê?
- Pedro, porque estás a fazer a barba?
-Pedro, porque estás a pegar na chávena de café com a mão esquerda?
- Pedro porque estás a tomar banho? Tenho a certeza que andas metido com outra a enganar-me todos os dias. Odeio-te.

Hoje, Pedro e Rosalinda vivem separados.
E ela, vive a sua vida, feliz (?) na sua roda de amigos e amigas a quem confidencia com grande à vontade e com o sentimento de ter toda a razão do mundo, durante o chá das cinco, numa esplanada qualquer:
- Eu não vos dizia? Não vos disse sempre que ele me andava a enganar? Os homens são todos iguais. Apenas nos querem durante um tempo, depois fartam-se e abandonam-nos.
Façam como eu, que aprendi à minha custa que nunca se deve confiar em ninguém .

terça-feira, maio 17, 2011

O Africano

O primeiro parágrafo:

"Todo ser humano é um resultado de pai e mãe. Pode-se não reconhecê-los, não amá-los, pode-se duvidar deles. Mas eles aí estão: seu rosto, suas atitudes, suas maneiras e manias, suas ilusões e esperanças, a forma de suas mãos e de seus dedos do pé, a cor dos olhos e dos cabelos, seu modo de falar, suas idéias, provavelmente a idade de sua morte, tudo isso passou para nós. Por muito tempo sonhei que minha mãe era negra. Inventei-me uma história, um passado, para escapar da realidade em meu retorno da África, neste país, nesta cidade onde eu não conhecia ninguém, onde me tornara um estrangeiro. Depois descobri, quando meu pai, na idade da aposentadoria, retornou para viver conosco na França, que o Africano era ele. Foi difícil admitir isso. Tive de voltar atrás, de recomeçar, de tentar compreender. Em memória disso escrevi este pequeno livro. "

O segundo parágrafo:

"O corpo
Tenho coisas a dizer deste rosto que recebi em meu nascimento. Primeiro, foi preciso aceitá-lo. Afirmar que não me agradava seria dar-lhe uma importância que ele não tinha quando eu era criança. Eu não o odiava: ignorava-o, evitava-o. Não o olhava nos espelhos. Durante anos, creio que nunca o vi. Desviava os olhos das fotos, como se alguma outra pessoa tivesse se posto em meu lugar. Aos oito anos de idade, mais ou menos, vivi na África ocidental, na Nigéria, numa região muito isolada onde não havia europeus, à exceção de meu pai e minha mãe, e onde a humanidade, para a criança que eu era, se constituía unicamente de iorubás e ibos. Na choupana em que nós morávamos (a palavra choupana tem algo de colonial que hoje em dia pode chocar, mas que descreve bem a residência funcional prevista pelo governo inglês para os médicos militares, uma laje de cimento por piso, quatro paredes de blocos sem emboço, um telhado de chapas onduladas recoberto de folhas, nenhuma decoração, redes penduradas nas paredes para servir de camas e, única concessão ao luxo, um chuveiro ligado por canos de ferro a uma caixa d'água no telhado, que esquentava ao sol), nessa choupana portanto não havia espelhos, nem quadros, nada que pudesse lembrar-nos do mundo em que tínhamos até então vivido. Um crucifixo que meu pai pendurara na parede, mas sem representação humana. Foi aí que eu aprendi a esquecer. Parece-me que da entrada nessa choupana, em Ogoja, é que data o apagamento de meu rosto e dos rostos daqueles, todos eles, que me rodeavam. "

sexta-feira, maio 13, 2011

Livros para que te quero!




GED, mexe essas pernas e vai lá ver o que a feira tem para ti!



quarta-feira, maio 11, 2011

APNEIA


Em vidas anteriores, há muito, muito tempo vivi junto do mar. O grande mar que tudo me deu e tirou.
Desde aí ficou-me o vício de, ainda que de modo errático fazer mergulho em apneia, apenas com "snorkel" e barbatanas.
Quem o faz, sabe tão bem como eu, que se fica no fundo até ao limite das nossas forças, às vezes até um pouco mais, e depois é a disparada vertical, em busca de um bocadinho que seja, de ar. E nessa altura os pulmões queimam.
Também, toda a gente que pratica sabe que há um momento de ilusão pura, no meio de tanta solidão e paz, que com um pequeno esforço até nos deixariamos ir e ficariamos ali para sempre. É apenas um fugaz momento, mas a vida de imediato reclama o seu preço.
Mas, eu sei que um dia, num mergulho qualquer da vida, me vou deixar vencer pela ilusão. A busca da paz derradeira pode ser uma obsessão, neste grande esforço que é viver.