Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,
já que me tratais assim,
que delito cometi
contra vós outros, nascendo;
que, se nasci, já entendo
qual delito hei cometido:
bastante causa há servido
vossa justiça e rigor,
pois que o delito maior
do homem é ter nascido.
E só quisera saber,
para apurar males meus
deixando de parte, ó céus,
o delito de nascer,
em que vos pude ofender
por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,
que privilégios tiveram
como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças
que lhe dão beleza suma,
apenas é flor de pluma,
ou ramalhete com asas,
quando as etéreas plagas
corta com velocidade,
negando-se à piedade
do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,
tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele
que desenham manchas belas,
apenas signo é de estrelas
graças ao douto pincel,
quando atrevida e cruel,
a humana necessidade
lhe ensina a ter crueldade,
monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,
tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira,
aborto de ovas e lamas,
e apenas baixel de escamas
por sobre as ondas se mira,
quando a toda a parte gira,
num medir da imensidade
co'a tanta capacidade
que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio,
tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra
que entre as flores se desata,
e apenas, serpe de prata,
por entre as flores se desdobra,
já, cantor, celebra a obrada natura em piedade
que lhe dá a majestade
do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,
tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão
um vulcão, um Etna feito,
quisera arrancar do peito
pedaços do coração.
Que lei, justiça, ou razão,
nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave,
exceção tão principal,
que Deus a deu a um cristal,
ao peixe, à fera, e a uma ave?"
(LA VIDA ES SUEÑO, Ato I, Cena I) de Pedro Calderón de la Barca
É assim a vida em TERRAMAR, onde dragões e feiticeiras se juntam e contam histórias em que tudo pode acontecer.
terça-feira, agosto 31, 2010
segunda-feira, agosto 30, 2010
domingo, agosto 29, 2010
sexta-feira, agosto 27, 2010
terça-feira, agosto 24, 2010
PORQUE É QUE EU GOSTO DE GOLF?
O golf na Europa é menos elitista (seja lá o que for que isso significa) , e mais democrático (seja lá o que for que isso significa também).
Comecei por pura curiosidade. Com o tempo, percebi que é o melhor desporto do mundo.
Em primeiro lugar, porque é jogado ao ar livre, sistemáticamente em lugares muito bonitos.
Depois percebi que não há adversários. O meu único adversário sou eu próprio, o que nem sempre é fácil.
Depois é um jogo de grande estratégia. Finalmente, não é possível jogar sem ter a cabeça completamente lavada.
Do ponto de vista técnico é altamente exigente e uma aprendizagem contínua ao longo de muitos anos.
Gosto de golf por tudo isto e, além do mais porque me permite diáriamente testar os meus limites.
Um abraço
GED
Comecei por pura curiosidade. Com o tempo, percebi que é o melhor desporto do mundo.
Em primeiro lugar, porque é jogado ao ar livre, sistemáticamente em lugares muito bonitos.
Depois percebi que não há adversários. O meu único adversário sou eu próprio, o que nem sempre é fácil.
Depois é um jogo de grande estratégia. Finalmente, não é possível jogar sem ter a cabeça completamente lavada.
Do ponto de vista técnico é altamente exigente e uma aprendizagem contínua ao longo de muitos anos.
Gosto de golf por tudo isto e, além do mais porque me permite diáriamente testar os meus limites.
Um abraço
GED
segunda-feira, agosto 23, 2010
Água em Pó
De Tatiana Druck:
que sede é essa
de si mesma
que nunca passa
que sede de mais
que entorpece
tonteia e afoga
pseudo-hidrata
afaga, esquece e mata
que sede é essa que engole e se engasga
bebe e não sacia
que gole é esse
que nunca desce?
que sede é essa
de si mesma
que nunca passa
que sede de mais
que entorpece
tonteia e afoga
pseudo-hidrata
afaga, esquece e mata
que sede é essa que engole e se engasga
bebe e não sacia
que gole é esse
que nunca desce?
segunda-feira, agosto 09, 2010
Húngaros
"Quando dois seres iguais se encontram, considera-se uma felicidade, um dom do destino. Mas encontros desse tipo, infelizmente, são raros, como se a natureza fizesse de tudo, usando a força e a astúcia, para impedir que se formasse tal harmonia - talvez porque precise, para recriar o mundo e renovar a vida, da tensão que cresce entre indivíduos que, mesmo vivendo segundo ritmos e pendores discrepantes, se perseguem eternamente."
Sándor Márai
Sándor Márai
domingo, agosto 01, 2010
Na arte de ler
Na clínica da arte de ler, nem sempre o que tem melhor visão lê melhor. Ricardo Piglia
Subscrever:
Mensagens (Atom)